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sexta-feira, 15 de agosto de 2014

O silencioso e perigoso capital de giro



Com a contenção de custos nas gestoras de recursos e com a sobrecarga de trabalho das equipes de análise das corretoras, a atenção dos analistas se volta para indicadores mais óbvios: crescimento intertemporal da receita e dos custos, endividamento, margens operacionais, múltiplos. Com isso, variáveis importantes que afetam a necessidade de capital de giro e, como consequência, o fluxo de caixa são deixados de lado como o ciclo financeiro, o prazo médio de pagamento e o prazo médio de recebimento por exemplo. 







O cálculo desses indicadores dá algum trabalho e, por isso, é, muitas vezes, deixado de lado pelos analistas. Contudo, podem ser vitais para antecipar problemas. Em regra, uma redução do prazo médio de estoque e de recebimento e um incremento do prazo médio de pagamento são benéficos para a geração de caixa, mas pode haver exceções.


Em 2001, a Telemar (atual Oi) começou a atrasar o pagamento a seus fornecedores. Quem acompanhava o prazo médio de pagamento (*) da companhia pode constatar a alteração no padrão de pagamento. Essa conta simples se mostraria útil. Uma interpretação poderia ser a de que a empresa havia conseguido aumentar o prazo de pagamento pela via negocial o que seria benéfico para a necessidade do capital de giro. Contudo a razão era menos nobre. A companhia estava com dificuldades de arcar com seus compromissos. Assim, após um tempo, a empresa levantou recursos junto a bancos para poder pagar seus compromissos. O preço da ação despencou. Por que se o problema já vinha ocorrendo há algum tempo? Muitos agentes do mercado olhavam apenas o múltiplo Firm Value (FV) (**)/ Ebitda e o múltiplo se elevou com o aumento do endividamento para pagamento dos fornecedores. Assim para retornar ao múltiplo original, o preço da ação precisou recuar para compensar o incremento da dívida e manter intacto o FV. Quem fazia o fluxo de caixa descontado, já percebia problemas na companhia e pode se retirar da ação mais cedo.


Outra medida importante é observar o comportamento dos estoques. Estoque ocioso é uma perda financeira para a companhia, pois esse dinheiro poderia estar, na pior das hipóteses, alocado em uma aplicação financeira. E não basta apenas olhar a evolução do estoque. O mero crescimento da conta não significa que a empresa esteja sendo ineficiente. É natural que o estoque cresça se as vendas aumentam. Foi o que aconteceu com a fabricante de silos e equipamentos Kepler Weber (KEPL3). A empresa, beneficiando-se do mercado agrícola, apresentou incremento do estoque. Ele cresceu de R$ 49,3 milhões em 2009 para R$ 188,6 milhões em março de 2014, aumento de 282,5%. Mas o aumento do estoque apenas acompanhou as maiores vendas. No mesmo período, a receita foi de R$ 212,3 milhões para R$ 648,5 milhões. Além disso, o prazo médio de estoque ficou praticamente constante. Era de 108,7 dias em 2009 e alcançou 104,9 dias em março último. Não dá para dizer que esse prazo médio é o ótimo, mas mostra que a atividade mais dinâmica da empresa não alterou a gestão do estoque.


Observar a dinâmica do capital de giro dá algum trabalho, mas agrega qualidade à análise.


(*) Prazo médio de pagamento = 360 / giro de fornecedores


Giro de fornecedores = compras / saldo médio de fornecedores


Compras = custo das mercadorias vendidas + estoque final – estoque inicial


(**) Firm Value = valor de mercado (preço da ação x base acionária) + dívida líquida


Termos de Uso


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